

Soldados ucranianos desconfiam da trégua de Páscoa anunciada por Putin
A alguns quilômetros do front, no leste da Ucrânia, alguns soldados ucranianos entrevistados pela AFP, neste sábado (19), disseram desconfiar da "trégua" declarada pelo presidente russo, Vladimir Putin, durante a Páscoa.
O presidente russo determinou a suspensão de "todas as ações militares" na Ucrânia até as 21h GMT (18h de Brasília) de domingo por motivos "humanitários" por ocasião da Páscoa.
Porém, mais de três anos depois do início da invasão russa, as tropas ucranianas não acreditam que o líder do Kremlin vá cumprir sua palavra, nem que uma breve pausa nos combates leve a um cessar-fogo mais amplo.
"Logicamente que há desconfiança", disse Dmitri, um soldado de 40 anos, na cidade de Kramatorsk, a 20 km do front na região de Donetsk.
Mesmo que a Rússia suspenda os ataques até a noite de domingo, será apenas por cinismo, afirmou.
"Acredito que este homem (Putin) é perverso, um assassino, mas pode fazê-lo. Pode ser que o faça para dar alguma esperança ou para mostrar humanidade. Mas em qualquer caso, obviamente, não confiamos. Estas 30 horas não vão levar a nada", declarou.
"O massacre do nosso povo e do seu continuará", acrescentou.
- "Jogar com vidas humanas" -
Vitali, outro soldado de 45 anos, concordou. "Acredito que não haverá cessar-fogo, os que o anunciaram não vão cumprir com todas estas declarações", disse à AFP da janela de seu carro.
"Talvez queiram reduzir de algum modo nossa vigilância", mas se houver realmente uma pausa nos combates, isto poderia dar à Ucrânia a oportunidade de "se reagrupar", acrescentou.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou que vai respeitar a trégua, mas denunciou que as ofensivas russas continuam e em várias regiões do país prosseguiam os alertas antiaéreos.
O presidente americano, Donald Trump, vem pressionando para que as duas partes suspendam os combates desde que voltou à Casa Branca, em janeiro, mas conseguiu poucos avanços.
Na sexta-feira, o republicano ameaçou abandonar as negociações se não vir progressos.
Em março, Washington afirmou que tinha chegado a acordos com Moscou e Kiev para que parassem de atacar as infraestruturas de energia do lado contrário temporariamente. Mas os dois países trocaram acusações quase diárias de violações.
Neste contexto, soldados como Vladislav, de 22 anos, se mostra cético sobre qualquer promessa russa.
Este jovem sinalizou para o cessar-fogo negociado entre a Ucrânia e os separatistas apoiados pela Rússia em 2014, violado com frequência durante os oito anos anteriores à invasão em larga escala da Rússia ao país vizinho.
"Vai recomeçar depois de um tempo, e continuará", assegurou.
K.Morris--PI